XP compra 6,06% da Ambipar e crise de COEs despenca valor de mercado

Quando Ambipar recebeu o sinal verde da XP Gestão de Recursos para a compra de exatamente 6,06% de suas ações, poucos imaginaram que aquele movimento passivo abriria caminho para uma tempestade no mercado de renda fixa.
Contexto da aquisição
Na sexta‑feira, , a gestora de investimentos XP anunciou a compra de 6.840.400 cotas da Ambipar, representando 6,06% do capital social da companhia. O comunicado, divulgado em , deixava claro que a operação não visava mudar o controle ou a estrutura de gestão; era, antes, um investimento passivo em um setor em alta — a gestão ambiental.
Detalhes da oferta primária de ações
Coincidentemente no mesmo dia, a Ambipar lançou uma oferta primária de ações (OPA) com objetivo de reforçar seu caixa. A expectativa era movimentar mais de R$ 1 bilhão, com preço das novas ações a ser definido em . Essa estratégia buscava capitalizar a demanda crescente por soluções ambientais, ao mesmo tempo em que provideia liquidez para projetos de expansão.
Reação do mercado e posicionamento da XP
Analistas da bolsa notaram que a decisão da XP era sinal de confiança no modelo de negócio da Ambipar. Em entrevista, o diretor de investimentos da XP, Carlos Alberto de Souza, afirmou que “a participação de 6,06% reflete nossa estratégia de diversificação setorial, sem intenção de interferir na governança da empresa”. Por sua vez, o presidente da CVM destacou que a operação estava em plena conformidade regulatória.
Crise de 2025 e liquidação de COEs
Dois anos depois, em outubro de 2025, a Ambipar viu suas ações despencarem 90,5% em apenas dez pregões, evaporando cerca de R$ 11,38 bilhões em valor de mercado. O colapso desencadeou a liquidação antecipada de Certificados de Operações Estruturadas (COEs) atrelados à empresa, resultando em perdas de até 93% para investidores da XP Investimentos e do BTG Pactual.
Em comunicado interno datado de , a XP Investimentos informou a liquidação dos COEs, enquanto o BTG Pactual, em campanha de marketing, utilizava o slogan “O retorno da renda variável, com a segurança da renda fixa”. Investidores alegaram terem sido induzidos a comprar produtos que, na prática, combinavam risco elevado com promessas de proteção.
Reações e críticas de especialistas
O sócio‑fundador da Apen Capital, Saulo Godoy, comentou no programa “X” que o mercado financeiro precisa “elevar a régua em todos os níveis”. Godoy comparou o caso Ambipar‑COE ao escândalo da Braskem, chamando‑o de “absurdo em vários sentidos”. Segundo ele, a prática de embutir comissões nos produtos estruturados “delapida o cliente sem misericórdia”.
Além das perdas nos COEs, surgiram notícias de que o CEO da Ambipar, em conjunto com o investidor Nelson Tanure, pode ter perdido garantias em uma emissão de dívida vinculada à Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), de São Paulo. Segundo documentos da CVM, Tércio Borlenghi Junior e Tanure ofereceram ações da Emae como garantia para debêntures adquiridas por um fundo chamado Phoenix FIP, controlado por Tanure.
Impactos e lições para investidores
- Investimentos em setores “verdes” ainda carregam riscos de mercado e de governança.
- Produtos estruturados como COEs podem mascarar a volatilidade real dos ativos subjacentes.
- Transparência nas garantias e nas estruturas de dívida é essencial para evitar surpresas.
- Reguladores precisam reforçar a supervisão de ofertas primárias e de produtos híbridos.
Para quem acompanha o mercado de ações, a saga Ambipar‑XP funciona como um alerta: nem toda estratégia passiva garante imunidade a crises, especialmente quando há vetores de risco ligados a emissões de dívida e a produtos de renda fixa estruturada.
Perspectivas futuras
Após o abalo, a Ambipar iniciou um processo de reestruturação de sua dívida e buscou novos investidores dispostos a absorver o risco de recuperação. A XP, por sua vez, tem reforçado políticas internas de análise de risco para evitar novas situações semelhantes. Já a BTG Pactual anuncia revisão de sua linha de produtos de COE, com maior clareza sobre os mecanismos de proteção.
O que fica claro é que o mercado de capitais brasileiro está em plena fase de maturação: investidores mais experientes exigirão disclosures detalhados, enquanto reguladores deverão acelerar a atualização de normas para produtos estruturados. O futuro da gestão ambiental como classe de ativos ainda parece promissor, mas os caminhos para chegar lá são cheios de armadilhas que só quem entende as entrelinhas conseguirá desviar.
Perguntas Frequentes
Como a compra de 6,06% da Ambipar pela XP impactou os investidores individuais?
A participação da XP foi vista como um voto de confiança no setor de gestão ambiental, o que inicialmente elevou a confiança dos investidores individuais. Contudo, a crise de 2025 mostrou que, apesar da sinalização positiva, os riscos de produtos estruturados ligados à empresa podem gerar perdas severas, como ocorreu com os COEs.
O que são COEs e por que eles geraram perdas tão altas?
COE (Certificado de Operação Estruturada) combina elementos de renda fixa e variável. No caso da Ambipar, a parte variável estava excessivamente exposta à volatilidade das ações, enquanto a promessa de segurança da renda fixa não se concretizou, levando a perdas de até 93% nos investimentos.
Qual o papel da CVM na situação da Ambipar?
A CVM acompanhou tanto a oferta primária de ações quanto as emissões de debêntures garantidas por ações da Emae. Ela informou que, até o momento, não houve infração formal, mas intensificou a vigilância sobre práticas de garantias em produtos estruturados.
Quais foram as principais críticas de Saulo Godoy sobre o caso?
Godoy acusou o mercado de "delapidar o cliente sem misericórdia" ao embutir comissões e garantias em COEs. Ele defende maior transparência e punições mais severas para quem cria produtos complexos sem informar claramente os riscos.
O que esperar das próximas movimentações da Ambipar no mercado?
A empresa deve focar na reestruturação da dívida, buscar novos parceiros de capital e reforçar sua governança. A expectativa é que, com maior transparência, consiga recuperar parte do valor perdido, mas o caminho ainda está cheio de desafios.
Rafaela Antunes
outubro 8, 2025 AT 23:53Claro que a XP achou que investir 6,06% na Ambipar era puro suodr de burocracia, mas na real foi só mais um glitter de fachada. Engana quem quer.