Padre Pio e sua devoção a Nossa Senhora de Fátima: fé, milagres e legado

Padre Pio nasceu em Pietrelcina, em 1887, e entrou na ordem capuchinha ainda adolescente. Desde a formação, ele demonstrava uma paixão intensa pela Virgem Maria, a quem chamava carinhosamente de "Madonnina". Essa devoção não era só sentimento; transformou‑se em prática diária: rezava o Rosário várias vezes ao dia e incentivava colegas a fazer o mesmo, chegando a dizer que o rosário era sua "arma" contra as dificuldades espirituais.
Devoção mariana e a construção do santuário
Nos anos que se seguiram, Padre Pio ampliou sua devoção ao ponto de organizar peregrinações e missas dedicadas à Nossa Senhora. Em 1954, iniciou a construção do Santuário de Nossa Senhora da Graça em San Giovanni Rotondo, um templo que se tornou símbolo da sua entrega mariana. O edifício foi financiado por doações de fiéis ao redor do mundo; a consagração, realizada em 1º de julho de 1959, durou quatro horas e foi descrita por Padre Pio como um dos momentos mais felizes de sua vida.
A mensagem de Fátima, revelada em 1917, encontrou eco na vida do santo. O chamado à oração, à penitência e à consagração ao Imaculado Coração de Maria se alinhou ao seu próprio sofrimento: as estigmas que carregava eram, para ele, um verdadeiro "cristianismo" – uma participação nos sofrimentos de Cristo que, segundo ele, se transformava em intercessão por almas. Essa convergência entre o carisma das estigmas e a mensagem de Fátima reforçava ainda mais sua missão de "orador" pelos necessitados.

Cura milagrosa e o último encontro com a imagem de Fátima
Em 1965, Padre Pio adoeceu gravemente, ficando confinado ao leito. Mesmo enfraquecido, seu desejo maior era ver a imagem de Nossa Senhora de Fátima pela última vez. Foi organizada uma grande procissão: aviões partiram de Foggia, a imagem foi transportada em carruagem até a praça da prefeitura e, ao final, chegou ao novo templo do convento.
Na manhã de 10 horas, acompanhado de dois frades, Padre Pio subiu ao altar, recebeu a imagem e, com a força que lhe restava, beijou o ícone. Em seguida, ofereceu um rosário que lhe fora entregue por um grupo de oração. O momento foi tão intenso que os médicos que cuidavam dele observaram uma melhora súbita: a fadiga diminuiu, a febre cedeu e o santo recebeu alta hospitalar poucos dias depois. Muitos consideram esse episódio uma cura milagrosa atribuída à intercessão mariana.
Após a recuperação, Padre Pio enviou ao Bispo de Fátima, Dom John Venance, um crucifixo como sinal de gratidão. O bispo respondeu enviando uma estátua de Nossa Senhora de Fátima, que foi colocada na sacristia, sobre a mesa de vestes. O santo cumpria o ritual de saudá‑la antes de cada missa e, ao final, oferecia preces de ação de graças.
Mesmo nos últimos anos de vida, Padre Pio mantinha a prática de ajoelhar‑se diante do relicário da imagem, rezando o rosário até o último suspiro. Em 23 de setembro de 1968, ao falecer, as palavras que se ouviram foram "Jesus" e "Maria", confirmando para os fiéis que sua devoção permaneceu viva até o fim.
Milhares compareceram ao seu funeral, reforçando o impacto que sua vida teve sobre a comunidade católica. Abeatificação, ocorrida em 2 de maio de 1999, e a canonização, em 19 de junho de 2002, ambas pelo Papa João Paulo II, confirmaram oficialmente o lugar de Padre Pio como um dos maiores estigmatizados e devotos de Nossa Senhora de Fátima da história contemporânea.